Audiência pública debate a participação da comunidade cristã na educação
Educadores e autoridades religiosas estiveram na Câmara Legislativa do Distrito Federal, nesta terça-feira (20/02), para debater o papel das comunidades cristãs na educação. Entre as questões abordadas, a participação das comunidades cristãs na formulação do Plano Nacional de Educação e o entendimento da laicidade do Estado como barreira à doutrinação religiosa e não como impedimento à transmissão de valores do cristianismo. O assessor da Pastoral da Educação da Arquidiocese de Brasília, Padre Paulo Rogério, defendeu que as igrejas cristãs sejam ouvidas na formulação do PNE. Ele questionou a razão de não serem consultadas. “Até que ponto os cristãos têm representação, sendo uma parcela significativa da sociedade brasileira”, perguntou. Ele disse que a contribuição da igreja ultrapassa a simples transmissão de conhecimento, mas prestigia uma visão integral dos seres humanos. “É importante perceber o indivíduo como um ser complexo, que tem uma parte física, intelectual e emocional”. A educação deve formar pessoas muito além da perspectiva do mercado de trabalho e preparar o ser humano para viver melhor consigo mesmo e na coletividade.
A professora de Relações Internacionais da UnB e coordenadora da Pastoral da Educação da Arquidiocese de Brasília, Tânia Mansur, argumentou que o vínculo do catolicismo com a prática de ensinar é histórico e não pode ser negado. Ela propôs uma comparação entre o proselitismo da igreja e o magistério. “Todo católico é um educador, porque é chamado à missão de evangelizar”.
Para o coordenador do Vicariato Norte, padre Eduardo Peters, a compreensão do suposto Estado laico não impede que a religião esteja presente nas escolas, visto que os valores apregoados correspondem ao respeito à vida, amor e paz. “Se esses ensinamentos não fazem parte da boa educação, sinceramente, não sei quais deveriam fazer”, declarou o vigário.
O coordenador de ensino de Sobradinho, Marcílio Lacerda, destacou o papel dos professores como formadores de opinião e a responsabilidade que cada um desses têm dentro de sala de aula. “Os alunos observam a fala, postura e até o que o professor veste, não há como negar a influência pessoal na hora de ensinar”. Lacerda tratou a participação da comunidade cristã como direito garantido dentro do regime democrático.
Segundo o deputado distrital e autor da proposta da Audiência, João Cardoso, o processo de educar começa em casa e deve ser considerado como parte importante do aprendizado. “Muito do que expressamos na sala de aula foi aprendido no lar, o que torna relevante também a questão religiosa. Ele exemplificou com o homeschooling, em que os familiares assumem o papel de educar, e defendeu a regularização do modelo.
“Há cerca de 250 famílias, que adotam esse modelo no DF. Eu visitei algumas e não vi nada de errado”, disse. “Quanto à necessidade de socialização – argumento daqueles que são contra, ela é compensada por outras atividades extracurriculares”. Para ele, o reconhecimento legal dessa modalidade de ensino é necessário, a fim de que os órgão de educação possam fiscalizar.